Transitar por esse universo do qual só conhecemos uma ínfima porção, possui o imenso poder de seduzir com sua infinita oferta de fantasia
Me resulta chocante o modo como se desenvolvem os mal chamados jogos digitais, porque são, na realidade, todo um sistema de fantasia criado por mentes retorcidas para ensinar crianças e adolescentes a afinar a pontaria, a identificar as armas mais letais, a perseguir as vítimas escolhidas – as quais se eliminarão da maneira mais sangrenta possível – e a marcar diferenças de gênero nas quais a masculinidade representa força e poder, enquanto a feminilidade é ilustrada com os códigos machistas de costume. Os jogos virtuais nos representam nesta etapa histórica de extremo subdesenvolvimento social e nos regozijamos com isso.
Me custa imaginar o impacto visual e psicológico dessas imagens para um infante que nem sequer aprendeu ainda a amarrar os sapatos. É, sem dúvida, bastante inquietante observar mães e pais orgulhosos de ver seus filhos de mamadeira sustentar um aparelho tão complexo como um telefone inteligente para “entreter-se” descobrindo seus segredos. Um hábito que permanecerá ao longo da infância, substituindo atividades cujo potencial de desenvolver sua criatividade, sua capacidade motora, sua fantasia e seu contato com a natureza lhe brindaria acesso a um mundo cheio de possibilidades.
Quem quer que esteja em contato com o mundo virtual, teve em seu monitor abundantes ofertas de jogos cada qual mais violento; em geral, com muito sangue e uma esmagadora seleção de técnicas e armas para eliminar outros seres humanos. Talvez isso que nos repugna a quem conhecemos de perto. Até onde é capaz de chegar a mente humana em seu afã por destruir. Não parece ser suficiente a sombra trágica da guerra, a fome e a perda de valores, há que a pôr ao alcance da infância com o desenho mais realista para acercá-la, como um brinquedo mais, à sua vida cotidiana.