Entre a Polícia e polícias

Com a diferença de poucas horas tivemos dois episódios envolvendo as polícias do Acre e de Brasília. No primeiro, dois policiais no interior do Acre apanharam de cabo de vassoura, ao interpelar um suspeito. Foram ridicularizados em todas as cores e tons.

Em Brasília, policiais do grupo de choque, fortemente armados, reprimiram uma manifestação indígena. Feriram crianças e idosos. Na opinião de muitos, apenas cumpriram seu dever.

Entre uns e outros, prefiro os policiais do Acre, que sofreram exposição negativa por terem se recusado a usar de violência aos  que não recusam a violência contra os pés descalços.

Seria um bom momento para a reflexão sobre qual polícia queremos. Se a polícia tem a missão de resguardar a segurança do cidadão, a polícia do DF, teria que garantir a segurança dos indígenas acampados há cerca de um mês, lutando para que não lhes tirem o direito às suas próprias terras. Ou o direito à propriedade e a segurança é restrito ao homem branco?

No Brasil, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. Mais de 60 por dia. Grande parte dessas mortes são provocadas por agentes do Estado, ou seja, as polícias. É esta a polícia que queremos?

Sobre o fato ocorrido no Acre, o Sargento Bombeiro Abrahão Pupio disse: ” Não sei nem preciso saber como iniciou a ocorrência e o desenrolar até o começo da filmagem. Mas parabenizo os policiais militares que optaram por não atirar com arma de fogo. A abordagem é e será criticada, mas os policiais, que felizmente estão vivos e aparentemente sem grandes danos, não serão processados pelo Ministério Público, que não irá pedir prisão preventiva nem perda da função. Já devem estar, ou logo estarão, com suas famílias. Os memes? Em parte são de defensores ou coniventes com o crime e/ou criminosos, em parte de ressentidos, em parte de meros imbecis, faz parte também da democracia que a PM visa garantir”.

Concordo com ele. Entre a polícia que mata e oprime os mais vulneráveis e a que vira meme por não utlizar de violência , fico com a segunda. Em vez de ridicularizados deveriam ser parabenizados pelo autocontrole. Não é fácil deixar de reagir quando se dispõe de equipamentos para tal ao alcance da mão. É óbvio que se um dos policiais quisesse reagir poderia ter dado um tiro, no pé no ou no braço do agressor. Preferiram não usar de violência.

Por menos policia made in Brasília e pelo respeito aos policiais do Acre.

Foto- El País