A líder indígena mapuche, Elisa Loncón foi eleita presidenta da Assembleia Constituinte do Chile que vai elaborar a nova Constituição do Chile.
A eleição aconteceu neste domingo (04) e foi instalada imediatamente.
Elisa Loncón, é uma das 17 deputadas eleitas pela cota para povos originários e foi eleita presidenta com 59 votos a mais que o desgundo colocado. Dos 155 integrantes da Casa, Loncón recebeu 96 votos.
A ela caberá organizar o andamento da redação dos artigos da nova Carta do país e articular o diálogo entre as distintas bancadas que formam o órgão.
Após ser eleita, ela fez seu agradecimento em mapudungun, o idioma dos indígenas mapuche, e em espanhol. No discurso, ela afirmou que o Chile deve se tornar um país pluricultural e defendeu a libertação de jovens que até hoje estão presos por conta das manifestações contra o governo que começaram em 2019. Foram exatamente esses protestos que deram início ao processo que culminou com a convocação da nova Constituinte, que realizou sua primeira sessão neste domingo.
Os membros da nova Assembleia vão se reunir por até um ano—nove meses, prorrogáveis por mais três—para redigir uma nova Constituição para o país, em substituição à que vigora desde 1981, escrita sob a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A votação que elegeu os constituintes, em maio, representou uma derrota para a direita e para a atual aliança de centro-direita pela qual o presidente Sebastián Piñera foi eleito. O setor governista ficou com apenas 37 das 155 cadeiras (24%), enquanto a centro-esquerda obteve 53 assentos (34%), e os independentes, 65 (42%). A aprovação de cada lei da nova Carta demandará o aval de dois terços da Casa.
Elisa Loncón
Moncón, de 58 anos, teve uma infância pobre em Araucanía, região no sul do país. Quando era criança, além de frequentar a escola, ela também vendia frutas, queijos e ovos no mercado de Traiguén, comunidade onde cresceu.
Aprendeu a ler com a ajuda do pai, que comprava livros usados para que a filha reforçasse os estudos em casa.
Atualmente Loncón é professora de inglês na Universidad de la Frontera e de mapudungun na Pontifícia Universidade Católica do Chile, em Santiago. Fez sua pós-graduação no Instituto Internacional de Estudos Sociais de La Haya e o doutorado na Universidade de Leiden (ambos na Holanda).
Loncón se diz uma mulher de esquerda, embora nunca tenha participado ativamente de nenhum partido político—ela afirma se inspirar na tradição mapuche de votar temas em assembleias.
Os indígenas chilenos são 8% da população. Destes, 84% são mapuche—o restante está dividido em outras 10 nações.
Sua família tem tradição de envolver-se nas lutas mapuche. Seu bisavô e seu tataravô lutaram contra a ocupação militar da Araucania em 1883 e defenderam Temuco, a capital da região.
Parte da população mapuche defende inclusive que a região se separe tanto do Chile quanto da Argentina—parte das terras indígenas estão no país vizinho—para a criação de um novo país independente.
Loncón, porém, pertence a uma ala mais moderada, que defende apenas que o Chile reconheça a soberania dos indígenas na região.