Há três anos não são realizados transplantes no Acre. Mais de 20 rins doados foram distribuídos para outros estados
O sogro do governador é paciente renal crônico, mas teve dinheiro para fazer o transplante na rede de saúde privada em São Paulo. Os ex-colegas de hemodiálise se alegraram com a notícia mas estranham o silêncio do presidente da Assembleia Legislativa Nicolau Júnior (PP) e da primeira dama do estado, Ana Paula Cameli, filhos do transplantado, em relação aos demais uma vez que conhecem o sofrimento dos pacientes renais crônicos.
Mais de 500 pacientes renais do Acre não têm a sorte de ter um filho deputado, genro governador e filha primeira dama.
O setor de nefrologia da Fundhacre é o retrato do descaso. No setor sucateado, não tem desfibrilador, balanças, máquina para lavar fístulas nem cadeiras (fístulas são as veias por onde fazem a hemodiálise). Faltam até balanças para cadeirantes.
As más condições do local foram comprovadas em maio de 2020, por uma fiscalização conjunta do CRM, Ministério Público e Vigilância Sanitária. Na época a fiscalização constatou a falta de ar condicionado nas salas de hemodiálise e no consultório médico. Não havia equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados para os funcionários, pacientes e acompanhantes. A equipe de fiscalização comprovou que não existe um local adequado para o isolamento de paciente recém chegado na unidade para evitar contato com os demais pacientes e um possível contágio da Covid-19.Veja Aqui
Durante a pandemia, 110 pacientes renais crônicos morreram.
Nem o exame eco-Doppler, essencial para a sobrevivência tanto dos já transplantados como para os doentes está sendo realizado porque o governo do estado reduziu a carga horária dos médicos. Entre os pacientes circula a informação que a intenção do governo é privatizar o setor.
O Eco-Doppler permite avaliar o fluxo dos vasos sanguíneos (artérias ou veias ) e permite avaliar diferentes órgãos abdominais, podendo ser dirigido ao fígado ou aos vasos renais. Ele tem grande utilidade no diagnóstico e avaliação da eficácia dos tratamentos, por isso é fundamental no tratamento dos pacientes renais crônicos.
Tudo isso apesar do governo ter em caixa R$ 1,4 milhão para a aquisição de equipamentos, fruto de uma emenda da deputada federal Mara Rocha, a pedido da Apartac, e de um compromisso de campanha assinado por Gladson Cameli em 20 de agosto de 2018, em uma reunião no auditório da Livraria Paim.
O documento contém 12 problemas que deveriam ser sanados com urgência. Nenhum foi. Mas rendeu foto e apoio eleitoral.
Em março de 2019, ao inaugurar a Clínica do Rim, o governador Gladson Cameli afirmou que “a Saúde é tratada como prioridade em seu governo”. No site oficial de notícias, o governador disse que não tem medido esforços para revolucionar o atendimento da Rede Pública Estadual.
Não é o que pensam os pacientes renais crônicos: “A manifestação é porque não aguentamos mais essa covardia. Não nos enxergam como seres humanos. Não basta todo o sofrimento da doença, ainda temos que lutar contra o descaso”, disse o presidente da Apartac, Vanderli Ferreira. A manifestação foi realizada na manhã desta quarta-feira (07).
Segundo ele, mais R$ 2 milhões, fruto de outra emenda da deputada Mara Rocha, estão para ser liberados, mas o governo não tem projeto para a utilização da verba que deveria ser usada para a reforma da nefrologia.