1- Mundo paralelo
Roberto Duarte (Republicanos), Coronel Ulysses (União) e Márcio Bittar (União) se manifestaram contra o decreto de Lula (PT) sobre armas. Duarte inclusive apoia o projeto para derrubar decreto. Tal projeto é de autoria de Paulo Bilynskyj (PL) um digital influencer que responde processo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro acusado de espalhar informações falsas. A reação de Ulysses já era esperada. Ele consta na lista dos parlamentares eleitos com o apoio do Proarmas. A contradição gritante é que os três parlamentares são do Acre, um estado que tem a maior parte da população em situação de pobreza. Exatos 439 mil e 783 pessoas nesta situação, segundo o IBGE. Essa metade da população do estado precisa de dinheiro para comprar comida, pagar transporte, medicamentos. Não para comprar armas. Um revólver calibre 38 mais barato não sai por menos de 2 mil e 800 reais, fora os custos de documentação, exame psicotécnico e registro (as informações são do site Casa do Tiro). O valor de um revólver daria para comprar mais de 5 cestas básicas. O custo de um revólver sustentaria uma família por cinco meses. Defender o armamento da população nesse contexto parece-me um processo profundo de alienação.
2-Sobre homens
A justificativa dos que são a favor da população se armar é que o “cidadão de bem” tem o direito de se proteger. “Cidadão de bem” é um termo para estabelecer a diferença com cidadão do mal. Não é um mero maniqueísmo. Tem uma função ideológica que estabelece a diferença entre as pessoas. No caso, os “cidadãos de bem” são os superiores. Os que têm direitos porque são “de bem”. Cidadão de Bem (Good Citizen), era um jornal da bispa evangélica Pilar de Fogo Alma Bridwell White. Uma líder religiosa que apoiava a Ku Klux Klan. O jornal foi publicado de 1913 a 1933. A Ku Klux Klan é uma organização que foi criada depois da Guerra Civil norte-americana com o objetivo de perseguir e assassinar negros. Essa organização dava ênfase ao patriotismo, filiação religiosa, combate aos vícios e controle da sexualidade. Consideravam-se “respeitáveis”. Do que se pode apreender que “cidadãos de bem” são pessoas brancas, de classes média e alta que querem manter a estrutura desigual para sustentar seus privilégios de classe, de raça e de gênero. Do outro lado da classificação então, estariam moradores da periferia, imigrantes e pessoas negras que configurariam os obstáculos à sociedade idealizada. Por isso a expressão “cidadãos de bem” soa tão mal a ouvidos atentos.
3-…e armas
Na eleição de 2022 foram eleitos 16 deputados federais e 7 senadores com o apoio do Proarmas. Entre eles dois acreanos. O senador Alan Rick (União) e o deputado federal coronel Ulysses (União). Formaram uma bancada, mas querem mais. Os CACs pretendem formar um partido político. Como se não bastassem os 33 partidos que existem no país e que em grande parte são responsáveis pela bagunça, embora a maioria integre o Centrão. Ou talvez, exatamente por isso. O Brasil atual tem mais CACs do que policiais militares. São 673.818 pessoas cadastradas como CACs para 406 mil PMs. Exatos 267.818 CACs mais que PMs. Isto é significativo. O assombro é maior quando se descobre que 2 milhões e 800 mil armas registradas estão em circulação nas mãos de civis. E que existem mais de dois mil clubes de tiro no país. Os CACs portanto poderiam ser o apoio pedido por Zelensky na guerra da Ucrânia. Brincadeira a parte, é de se questionar qual o objetivo dessa gente armada num país que não está em guerra.
4-Cassação
A Federação Médica Brasileira (FMB) protocolou no último dia 18, o pedido de revogação do mandato do senador Alan Rick. A solicitação foi formalizada no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. O motivo foi o discurso do senador do Acre no qual denunciou um boicote a médicos formados no exterior. Óbvio e ululante que não vai dar em nada mas trago a questão para reforçar o que alertei em coluna passada: que toda a notícia sobre Alan Rick viria acompanhada de menção sobre o vídeo em que ele aparece esculhambando com um funcionário do aeroporto de Brasília. O site Metrópoles por exemplo manchetou “Federação de Médicos pede cassação de senador do barraco em aeroporto”. Outros seguiram a mesma linha. O Brasil 247 publicou: ” senador Alan Rick (União Brasil-AC), o mesmo que se tornou amplamente conhecido nas últimas semanas após um vídeo dele causando tumulto em um aeroporto ter se espalhado…”. É o Acre nas manchetes nacionais.
5-Sobre barracos
Em um vídeo que circulou na semana passada, o presidente do Partido da Mulher Brasileira, Sandro Guimarães, aparece esculhambando Rondiney Dourado (PP) que ficou quieto. O que a princípio parece uma agressão gratuita, talvez não seja. Funcionários da Assembleia Legislativa lembram que Rondiney era bastante agressivo quando era ligado ao ex-deputado Jamyl Asfury e costumava afrontar o à época também deputado estadual Major Rocha. Pois é. Sempre tem quem sabe o que foi feito no verão passado.
6-Desponta
Em Cruzeiro do Sul desponta o nome do vereador Franciney Melo (PP), como possível candidato a sucessão de Zequinha Lima, do mesmo partido. O parlamentar que foi reeleito presidente da Câmara Municipal por unanimidade, é considerado pela população como um líder carismático, articulado, popular, bom gestor, respeitado e inserido em todos os setores da sociedade. O que o torna mais que a nova aposta, uma esperança para o momento. Entretanto o reconhecimento popular não é consenso no núcleo duro do partido apesar da atual gestão estar em baixa com a opinião pública. Os mais inflamados garantem que a rejeição a Zequinha atinge 90% da população. Não tem obras para mostrar nem recebeu o povo durante o mandato. Mas se Franciney tem voto, Zequinha tem o apoio maciço do governo do estado. No meio da confusão alguns dedos apontam para Clodoaldo Rodrigues (Republicanos), com a ressalva que o deputado manifesta essa vontade de forma tímida, talvez com receio de perder feio para a ex-deputada Jéssica Sales (MDB), candidata que ostenta mais de 60% de preferência do eleitorado.
7- Rebelião
A rebelião no presídio Antônio Amaro era a tal da crônica anunciada. Afinal, manter integrantes de facções criminosas rivais, em guerra permanente, no mesmo presídio é desafiar o azar. A bomba estourou nas mãos do deputado Luiz Gonzaga (PSDB), governador em exercício por causa da ausência do governador Gladson Cameli (PP) e da vice-governadora Mailza Assis (PP). Ambos fora do estado. Gonzaga faz o que pode. Se reúne com os outros poderes e tenta encontrar saídas para contornar a crise. Entretanto, o titular, eleito para o cargo deveria ter retornado ao Acre imediatamente ao ser informado da situação. É sua a obrigação. foi eleito para isso. Para resolver as crises e não para distribuir sorrisos em tempos de calmaria. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ofereceu a Força Nacional para conter a rebelião. A situação permanece tensa e a rebelião continua.
8-Mistura perigosa
Israel caminha para se transformar numa autocracia religiosa extremista. A nova lei que foi aprovada nesta semana reduz os poderes do Judiciário israelense e proíbe a Suprema Corte de revisar decisões do governo com base no “princípio da razoabilidade”. Na prática elimina o judiciário para atender as exigências dos grupos extremistas religiosos Shas e Judaísmo Unido da Torá. Ou seja, as leis religiosas serão superiores às leis dos homens. Os grupos religiosos que juntam fascistas, apoiam Netanyahu apesar das acusações de corrupção. São grupos misóginos, homofóbicos, segregacionistas e que consideram todos os árabes como inimigos. Para se ter uma ideia, eles desafiavam a lei israelense e proibiam que as mulheres sentassem ao lado dos homens nos ônibus que circulam pelos bairros ortodoxos e nos aviões da companhia israelense El Al. Imagens de mulheres não são publicadas em seus jornais. Com a revolução autoritária religiosa de ultra-direita pretendem que isso seja instituído por lei em todo o país formando um governo sionista religioso. Por outro lado, a partir do ponto de considerar os árabes como inimigos, libera as operações de terroristas judeus nos territórios ocupados da Palestina. O que também já começou. A mando das autoridades israelitas o exército despejou cimento em nascentes de água no sul da cidade ocupada de Hebron para impedir que os palestinos possam utilizar para fins agrícolas. A situação é tão grave que até Joe Biden criticou as mudanças apesar dos EUA serem aliados históricos de Israel. Os protestos contra a implantação desse regime sionista foram punidos com prisão.
9- Para refletir
“Há muitas maneiras de matar uma pessoa. Cravando um punhal, tirando o pão, não tratando sua doença, condenando à miséria, fazendo trabalhar até arrebentar, impelindo ao suicídio, enviando para a guerra etc. Só a primeira é proibida por nosso Estado”. Bertolt Brecht.
Bom dia, conselheira Naluh Gouveia, do TCE. Todo mundo sabia que Vossa Excelência não caberia na fantasia de Bela Adormecida. Quem nasce para Pantera Negra não se enquadra em contos de fadas. Vosso roteiro é outro né? Ainda bem.
Esta é uma coluna de opinião e reflexão
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