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Coluna da Angélica- Michelle Melo: a montanha pariu um rato

1-Meia boca

A deputada Michelle Melo (PDT), que na sessão de terça-feira anunciou para a quarta-feira (20), verdades sobre verdades, não cumpriu o prometido. Anunciou um ratatouille e serviu mingau requentado. O contorcionismo retórico para evitar que algo respingasse no governador Gladson Cameli (PP), foi evidente. Assim como a mágoa por ter sido tirada da função de líder do governo.  Suas críticas limitam-se ao Secretário Adjunto de Governo, Luiz Calixto. E questões pessoais não sustentam bandeiras políticas. Criticou a presença de Calixto no jantar do governador com os deputados como se o Secretário não tivesse levado por Gladson. De propósito. Para mostrar quem manda. Ponto. Descontentamento de deputado com o governador e vice-versa é o que pauta esta relação.  Se o grande problema foi ter sido chamada de mentirosa está no lugar errado. Políticos rotineiramente são taxados com adjetivos muito piores. Tentou emplacar frases de efeito como a grande verdade de Michelle; a política baixa e a defesa da honra. Com o perdão da comparação, parecia uma má atriz com um roteiro ainda pior. Sua exposição foi pueril.  No plenário ninguém deu bola. Melhor seria não ter criado expectativas para serem frustradas. Anunciou um terremoto e não conseguiu produzir nem uma leve brisa.

2-Pé na lama

Michelle encenou a vítima da perseguição masculina por ser mulher. Pode ter existido. Mas a parlamentar não vai conseguir sensibilizar as mulheres para a sua causa. Ela é acusada de assédio moral por uma ex-funcionária de seu gabinete. Se ela como mulher não se sensibilizou com a situação de outra mulher apenas porque esta estava sob seu comando, como vai querer sororidade? Na terça-feira a deputada disse que um dos ensinamentos de seu pai foi que quem quer respeito deve respeitar. Qual foi a parte do ensinamento paterno que a parlamentar não entendeu para humilhar a jornalista Lamlid Nobre? O caso está na justiça e coincidentemente no dia em que Michelle se vitimizava na Aleac, aconteceu a primeira audiência.  De acordo com a denúncia, a deputada exigia tarefas que nada tinham a ver com a função de assessora de comunicação para a qual Lamlid havia sido contratada. Tarefas pessoais. E se não bastasse a exigência de trabalho diário, inclusive nos domingos e feriados ainda era tratada com piadinhas e exposta a constrangimento no grupo de whatsapp do mandato. É muito ruim uma mulher não ter sua condição respeitada por homens, mas é muito pior quando a algoz é outra mulher. Talvez a deputada devesse ter dado mais atenção aos conselhos de seu pai.

3-Cavaleiro solitário

O único deputado da base que se dispôs a falar sobre o assunto levado por Michelle Melo foi Tanizio Sá (MDB). E o fez com leveza. Dando um suave mas seguro puxão de orelhas na deputada. De certa forma sugeriu uma tempestade num copo d’água. Águas passadas. Michelle aproveitou a deixa e concordou e rapidinho. Até parece que foi armado. Disse que para ela a partir de agora este assunto está encerrado. Como se só estivesse esperando um jeito menos traumático de encerrar a pendenga. Lembram daquela frase “quem não sabe brincar não desce para o playground”? Pois. No início da legislatura alertamos que a escola da Câmara de Vereadores com cobrinhas verdes não preparava para o vestibular de cobras criadas da Assembleia Legislativa.  Em resumo, a sessão de quarta-feira foi do apaga fogo. Ninguém mais tem problema com ninguém. Zerou a conta. E segue o baile. Com música de notas dissonantes. Mas, segue.

4-Limbo

Ao falar sobre a demanda reprimida do TFD, a deputada Antônia Sales (MDB) destacou que os adolescentes são colocados no último lugar da fila. Ninguém quer atender adolescentes. Segundo ela, os próprios funcionários da Saúde se referem aos adolescentes como os que estão “no limbo”. Ou seja, não têm nem um lugar definido. Justa a reclamação da parlamentar. Entretanto se olhar em volta, verá que o Acre inteiro está no limbo. Parado no tempo. Como se uma nuvem carregada pairasse sobre o estado. Bem no estilo dos desenhos.

5-Crise

O Estado está em crise. A redução de despesas em mais de 30% é uma tentativa do governo não atrasar o pagamento dos salários dos servidores públicos como aconteceu nos governos Orleir Cameli e Romildo Magalhães. A gestão Gladson Cameli não tem nada a apresentar além do pagamento dos funcionários públicos em dia. Se não conseguir manter nem isso estará em maus lençóis. Por isso a folha de pagamento é a prioridade embora a possibilidade de atraso no pagamento dos servidores seja mesmo assim uma possibilidade real a partir de 2024. A manifestação dos terceirizados da Red Pontes que trabalham na limpeza do Pronto Socorro, foi apenas a ponta do Iceberg. Outras devem acontecer.  O deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), alertou que há um movimento no Sindicato dos Vigilantes por causa dos salários atrasados e porque dezenas deles estão de aviso prévio.  Vítimas da degola motivada pela contenção de despesas do governo do Estado. Os vigilantes também são terceirizados. A situação é delicada e o deputado Fagner Calegário (Podemos), pôs fim ao fim ao jogo de empurra da culpa ao declarar que a dívida do governo com as empresas terceirizadas atinge os 50 milhões de reais. Segundo o parlamentar o governo tem esse levantamento. Calegário deu o alerta que se o governo não resolver essa questão vão acontecer outras paralisações. Nesse caso, entende-se a posição dos empresários, mas troca-se o constrangimento deles pelo pão na mesa dos trabalhadores. A falta de combustível na Seagri é outro indicativo da grave crise que se abateu sobre o Acre.

6-Deputado Pastor

Com tantos problemas a resolver no país, o deputado federal Pastor Eurico (PL/PE) está tentando proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.  Ele é autor do Projeto de Lei 5167/09. O referido é pastor da Assembleia de Deus e destaca em seu Instagram “Deus, Pátria, Família e Liberdade”. Mas ao que parece a liberdade defendida é só para os que comungam das suas ideias. E a pátria, idem. Essa gente que faz um shake de religião com política precisa entender que o país é regido pela Constituição e não pela Bíblia. E que se direitos são retirados os deveres também devem ser. A comunidade LGBT ao contrário das igrejas, paga impostos como todo mundo, o que  lhes garante o direito a cidadania. O Pastor Eurico levou uma invertida do colega de Direita, Marx Beltrão (PP-AL) que disse: “não estamos numa igreja”. Esse grupo fundamentalista usa o pânico moral para obter votos dos ignorantes que enxergam nesses projetos um meio de impedir que seus filhos sejam homossexuais. Num país que tem milhões de pessoas passando fome e mais de um milhão de trabalhadores na fila da perícia do INSS, pautas morais são cortina de fumaça para a completa ausência de projeto social. Isso para ficar apenas na superfície da questão. Olhos atentos, observai. Ser a favor do direito da união civil homossexual não obriga ninguém a casar com pessoa do mesmo sexo. É só uma garantia de cidadania para os que optarem por esse tipo de união.

7-… versus Deputado Pastor

O deputado Henrique Vieira (PSOL-RJ) que é pastor fundador da Igreja Batista do Caminho deu um xeque-mate  no colega preconceituoso questionando o conceito de ‘modelo bíblico de família’ que normaliza o adultério masculino.  Abrahão por exemplo, tinha três esposas e mantinha concubinas; o rei Davi tinha 8 esposas e Salomão, 700 esposas além de 300 concubinas. Vieira também destacou que a Bíblia regulariza a escravidão, proibindo apenas bater ou matar o escravo. Assim como indica o apedrejamento de mulheres que não sejam virgens no dia do casamento. Proíbe o compartilhamento de cadeira com mulher menstruada. “Vão querer transformar isso em Lei também em nome do está escrito?”, questionou ele. Para ele, é um atraso imensurável querer usar um manual de instruções voltado para um povo nômade do deserto, com mais de dois mil anos para resolver problemas atuais. Se isso não funciona nem com celular de modelos diferentes, o que dirá com sociedades tão distantes. A situação da mulher é tão opressiva na Bíblia que tiraram dela até a função de gerar,  no início dos tempos.  Observem que na teoria da criação não foi a mulher que gerou o primeiro homem, mas saiu dele. Do homem. Foi retirada da costela do Adão. Mas, como diria o excelente Ton Lindoso, “vocês não estão preparados para essa conversa”.

8-Conclusão

Não dá para se basear em religião para dizer o que é certo ou errado em uma sociedade porque o ser humano é plural e a religião é individual. Imaginem se  alguém  criasse uma Lei obrigando evangélicos seguirem os preceitos da umbanda, por exemplo. Seria uma violência tão grande quanto impor preceitos cristãos a toda a população. Além disso, a grosso modo, o projeto do deputado pastor Eurico é homofóbico, logo, em tese, comete  crime e quem endossa o projeto.

Bom dia, deputado Nicolau Júnior (PP). Parece que uma possível candidatura sua ao governo do Acre começa a despertar simpatia né? Tem gente que se sente órfão com  as candidaturas postas e se anima com Vossa Excelência. Parece que o tempo do político bruto, religioso e autoritário foi enterrado com a derrota de Bolsonaro né? Novos tempos, novos candidatos.

Esta é uma coluna de opinião e reflexão

Contato- [email protected]

Imagem- Jornal Tornado

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